Dr. Luís Amado

PT_ Como justificar uma intervenção artística numa pedreira na serra dos Candeeiros? Uma atração turística? A mitigação do impacto da exploração da pedreira? A simples inquietação artística? Não é verdade que a pedra e a arte estão associados desde as primeiras manifestações artísticas?

Se a arte ajudou o homem a tornar-se humano, é normal que nos interroguemos sobre o papel da arte na relação entre o homem e a natureza. A crise das alterações climáticas e do aquecimento global problematiza essa relação em todas as suas dimensões, tornando-a uma questão central no pensamento contemporâneo. Começa agora a ser percebida na verdade, como uma questão existencial.

Quando a natureza se revolta contra a condição que a humanidade lhe impõe, ninguém encontrará na arte, justificação para essa revolta. O mesmo não se poderá dizer da ciência e da tecnologia, as alavancas seculares do “progresso” que nos afastou da natureza e nos trouxe até aqui, às portas de um mundo pós humano. O artista, ao contrário do cientista, não precisa de conhecer ou dominar o objeto da sua curiosidade para realizar o seu trabalho. À objetividade científica, feita de distância e isolamento, contrapõe o artista a sublime impressão da sua subjetividade e de uma promiscuidade sem barreiras com a sua criação.

A arte não é um projeto de poder e pouco poderá fazer para evitar o apocalipse anunciado. Talvez a ciência nos possa ainda salvar. Mas sem a contribuição da arte e dos artistas, tudo será mais difícil. Voltemos pois à pedreira e à intervenção artística no seu espaço. Ninguém tem que explicar nada.

ENG_ How to justify an artistic intervention in a quarry in Serra dos Candeeiros? A tourist attraction? The mitigation of the impact of quarrying? The simple artistic restlessness? Is it not true that stone and art have been associated since the first artistic manifestations?

If art helped man to become human, it is normal for us to wonder about the role of art in the relationship between man and nature. The crisis of climate changes and global warming problematizes this relationship in all its dimensions, making it a central issue in contemporary thought. It is now beginning to be perceived, in fact, as an existential question.

When nature revolts against the condition that humanity imposes on it, no one will find in art a justification for this revolt. The same cannot be said of science and technology, the secular levers of “progress” that distanced us from nature and brought us here, at the gates of a post-human world. The artist, unlike the scientist, doesn’t need to know or master the object of his curiosity in order to carry out his work. Against scientific objectivity, made up of distance and isolation, the artist opposes the sublime impression of his subjectivity and of a barrier-free promiscuity with his creation.

Art is not a power project and will be able to do little to avoid the announced apocalypse. Maybe science can still save us. But without the contribution of art and artists, everything will be more difficult. So let’s go back to the quarry and the artistic intervention in its space. Nobody has nothing to explain.